domingo, 23 de novembro de 2008

A grande depressão




Já sobram poucos dos que eram já adultos em 1929, o ano em que se iniciou a "Grande Depressão" que se viria a arrastar e a impor as suas consequências por mais de uma década até à II Guerra Mundial. Nessa época, havia uma euforia nos mercados bolsistas que se propagou à população, pessoas de todas as classes sociais, ricos e pobres, sapateiros e homens de negócios, jogavam na bolsa, muitos à custa de empréstimos. Faziam-se fortunas de um dia para o outro e parecia que todos poderiam ficar abastados, era o "sonho americano". A esta época de entusiasmo seguiu-se um período de instabilidade, com subidas e descidas nos mercados de acções, que viria a tornar famoso o dia 29 de Outubro de 1929, a "Terça-feira Negra", o início da "Grande Depressão". Nesse dia, ameaçados pelas flutuações do mercado e pelos rumores de uma possível queda iminente da bolsa, todos os accionistas venderam ao desbarato todas as acções que tinham, fazendo dos bocados de papel que eram a sua fortuna isso mesmo, bocados de papel. Fortunas, umas incalculáveis, outras não, perderam completamente o seu valor, um sem número de pessoas ficou na ruína.
Depois do "crash" de 1929 os bancos, alheios a qualquer responsabilidade (já na altura havia falta de políticas e regras pare este tipo de negócios) e como seria de esperar, continuaram a exigir que fossem pagos os empréstimos que tinham sido feitos. As pessoas, agora sem um tostão, não tinham como pagar. Incapazes de fazer face aos compromissos efectuados iniciou-se uma espiral de falências e penhoras, empurrando milhões de pessoas para o desemprego e para fora das suas casas. Nos Estados Unidos 25% da população activa ficou sem emprego e, claro está, também não tinha salário. Sem dinheiro para gastar, um círculo vicioso que se viria a arrastar mais de uma década foi iniciado. Quanto mais pessoas estivessem desempregadas mais iriam ainda ficar, pois não tendo dinheiro para comprar os bens dos outros, mais cedo ou mais tarde esses últimos viriam também a falir pois não tinham como fazer negócio.
A miséria instalou-se, de Wall Street espalhou-se para todos os continentes, poupando apenas algumas economias socialistas que eram estanques à crise capitalista. Milhões de desempregados e suas famílias foram viver para bairros de lata, fome, sofrimento e violência seriam o dia-a-dia de milhões de cidadãos do mundo por anos a fio. A crise só viria a ter o seu ponto final após a II Guerra (um conflito terrível, presente apenas na memória de alguns e não mais do que uma imagem na televisão para a maioria), quando os mais díspares (ou não) interesses se defrontaram até se estabelecer uma "nova ordem" mundial.
É para mim óbvia a semelhança entre o que se passou há 80 anos e o que se passa agora. Os empréstimos, as quedas na bolsa (que segundo consta, foram já maiores este ano que em 1929), as penhoras e as falências só agora começaram. Será, muito provavelmente, uma questão de tempo até que venhamos a sentir na pele as consequências desta crise.
Tento, sem êxito, explicar o meu ponto de vista às pessoas que, cépticas na sua maioria, ouvem a minha história com um sorriso paternalista, colocando esta minha ideia nas margens do estapafúrdio. Quando falo num desemprego descontrolado, com flutuações incompreensíveis de preços, fome e miséria quase transversais em todos os países industrializados dão-me uma pancadinha nas costas e sugerem-me que veja menos filmes. Nada que não estivesse à espera!
É natural, acho eu, este cepticismo. Como disse no início, já são poucos aqueles que viveram com olhos críticos o período da "grande depressão" e da II Guerra. Todos, como eu, viveram um período de prosperidade, todos convencidos que o mundo capitalista era um local seguro em que a propaganda, a censura e a escravatura tinham lugar apenas nos livros de História. É óbvio que assim não é!
Tenho medo do que será do mundo, quando sociedades inteiras de cépticos se virem confrontados com a crise real e verdadeira. Temo pela desorganização e pelo descontrolo.
Espero sinceramente estar enganado, que esta crise não chegue às pessoas, que o desemprego não suba, que não se inicie a violência, as pilhagens, a fome e a miséria generalizada. Espero que não se inicie a guerra!
Infelizmente a minha consciência diz-me o contrário, já aconteceu no passado e vai certamente acontecer no futuro. A História, quando se repete, não escolhe os que se pensam esclarecidos ou cépticos, atinge todos, para o bem ou para o mal!
Espero não estar isolado, mas se estiver e assim continuar, tanto melhor! Serei apenas um pessimista, antes isso que a II Grande Depressão!

Mas se for como digo, espero não estar sozinho! Que haja quem combata a meu lado, pois é o antecipar dos males que faz de nós humanos, que nos permite lutar por um mundo melhor para nós e para os outros!

"Hasta la victoria, siempre!"

5 comentários:

Ridere disse...

Já deixavam um comentário, nem que fosse para dizer mal...

Fi disse...

Olá Jonas

Não fiques triste... mesmo com esta treta das vagas não descuro a leitura assídua do teu blog. Gostava de não ser tão pessimista como tu mas acho que lhe chamaria antes realismo e profilaxia. Quem tem medo que as coisas deem para o torto esta do lado da razao e da clarividencia. Tudo aponta para que desta vez possamos ir por água abaixo... Resta saber quais de nós se iriam aguentar e, acima de tudo, se todas estas alterações drasticas da sociedade culminariam desta feita noutra guerra... Guerra esta que, temo, seria terrivelmente mais devastadora que qualquer outra prévia...
A meu ver há várias atitudes previdentes a tomar, sendo a mais importante: DEPENDER O MENOS POSSIVEL DAS MARÉS DA ECONOMIA. Há hipótese de termos uma vida "paralela" ou quase independente das leis escravizantes das finanças mundiais. Basta pensar que o dinheiro não é tudo, que é um complemento infelizmente necessário ao dia-a-dia da maioria de nós. Mas, mesmo o dinheiro pode ser cada vez mais secundário se nos refugiarmos das dívidas desnecessárias. Porquê comprar uma casa quando se pode alugar? Porquê depender à de eterno da vontade e humor dos senhores da banca? Por outro lado, se há transportes públicos porque pegar constantemente no carro como se dele dependessemos? Todos deviamos ao menos ponderar alternativas muitas vezes mais laboriosas mas certamente mais recompensantes!
Não me admiro nada quando vejo pessoas "viciadas" nos métodos alternativos de vida: compensam, desgastam menos psicologicamente e, acima de tudo, preenchem muito mais enquanto ser humano!

Continua Jonas

Beijinhos da
Fi (sei que deves achas esta assinatura menos digna do teu blog mas ao menos sabes quem sou!)

Luísa Benevides disse...

Gostava que estivesses só a ser pessimista... mas ao que parece a Europa está cada vez mais próxima da depressão. Sabias que o IVA em Inglaterra baixou para 15% para fazer face à recessão? Neste momento já têm o IVA igual ao dos Açores, que é considerada uma região ultra-periférica, e os nossos políticos ainda sonham com o crescimento económico... Há que depender o menos possível dos "dolares", vamos voltar a reciclar roupas, pôr sapatos no sapateiro, criar porcos e galinhas, semear batatas e couves, e, como diz a tua amiga, alugar casa e andar de transporte público ou se possível a pé. Resumindo, vamos regredir 40 anos no nosso modo de vida, porém com a "alegria" de termos experienciado a "era do consumismo" que nos levou a lado nenhum!

Anónimo disse...

Caro João,
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Acho que não é sensato espalhar o pessimismo, tal como não acho sensato tentar fechar os olhos e esperar que passe. A verdade é que realmente houve uma grande depressão económica no passado e que quase esteve para haver outra, mas a beleza do passado é mesmo essa, é que podemos aprender com ele e rectificar algumas coisas. Não estou a dizer que podemos aprender tudo, pois o momento presente é tão volátil e tão intrinsecamente dependente de circunstancias, como uma vez foi no passado, mas tenho a certeza, porém, que o que passamos não foi em vão...
protanto é altura de darmos graças pelo aquilo que temos em vez de esgotarmos as nossas energias o nosso brilhantismo em excessos em extremos. Ver as possibilidades do futuro implica ter calma e analisar para além das emoções é sentir com a lógica.
continuação..

Anónimo disse...

Muitos parabens, eu sempre soube que eras, és e seras capaz de ser o que queres. Um grande abraço do teu irmao.