quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ó tempo, volta para trás!



O dia de ontem foi paradigmático no que diz respeito ao estado do jornalismo actual. Na primeira hora do telejornal da SIC, a maior parte foi dedicada a assuntos que fazem lembrar outros tempos - Fátima, Amália (sim, parece que estão a fazer umas versões pop da Amália) e futebol. Dá que pensar! Principalmente, quando o restante tempo de antena foi dedicado a entrevistar criminosos inveterados (para manter o pessoal em alerta) e os pais da maddie, que continuam - e continuarão - à procura da dita criança.
De facto, o que importa é vender as notícias e entreter a malta. Já o outro dizia - ignorância é força!
Questiono-me se não haverá outras coisas mais importantes a noticiar. Claro que há! Para uns, tais temas são uma seca, para outros, não têm interesse. É que isto de tentar compreender quem tem (e como) a responsabilidade dos nossos destinos, é cá uma estopada...
Se o objectivo é desinteressar as pessoas do seu futuro, missão cumprida. Se o objectivo é fomentar a resignação e a mentalidade do "já não há nada a fazer, temos que nos habituar porque eles são todos iguais", está tudo resolvido.
Os falecidos ditadores que tentaram, sem sucesso, salvar o estúpido povo de estar envolvido nos seus destinos, vêem agora os seus intentos consumados.
Parece-me evidente, numa altura em que há pelo menos um bom par de milhões de portugueses no limiar da pobreza, que é preciso falar na Madeleine McCann. Principalmente porque não há mais crianças desaparecidas em Portugal, nem outros problemas que sejam de relevo superior ao de uma criança loura desaparecida há dois anos. Mais importante que isso, só mesmo a entrevista com um delinquente do famigerado Bairro da bela vista, e a sua reflexão sobre se iriam ou não, pegar fogo a mais um caixote do lixo.
Marcelo Caetano dizia, a respeito do jornalismo e da censura - Há por aí uns queixumes, de que não temos por cá uma informação completa, nada porém, do que de verdadeiro se passa e que ao público interesse, deixa de ser trazido ao conhecimento dele. 
Depreendo então, consumado que está o 25 de Abril, que os noticiários actuais noticiam mesmo o que se passa e que interessa ao público: Vinte minutos de insegurança em Setúbal, dez minutos de futebol, cinco de Amália, e o restante sobre uma miúda perdida e claro, Fátima.
Já me ia esquecendo, houve também uma reportagem, a todos os títulos notável, sobre os mexicanos que estavam em Fátima, enquanto o vírus da gripe suína continua a dizimar dezenas (que foram aí, à vontade, umas cinco) pessoas por todo o mundo.
É com o sentimento de um profundo conhecimento do mundo que mudo de canal para outra coisa qualquer, depois do grandioso momento informativo.
Acho que é caso para dizer qualquer coisa como: Tudo pela nação, nada contra a nação!




4 comentários:

Lily disse...

De facto... Antigamente o saber era condicionado e as pessoas queriam essa liberdade. Hoje têm-na e não sabem o que fazer com ela. Mas, claramente, hoje em dia estar informado não passa pelos media portugueses, infelizmente. *

LFM disse...

«Tudo pela nação, nada contra a nação!» é um bom exemplo de reaccionarismo.
Há uma frase do John Wayne, num daqueles filmes emblemáticos do género "western" (e do aqual não me recordo o nome) em que ele diz algo semelhante, e que terá influenciado essa expressão salazarista: «For my country, right or wrong!»
Mas o John Wayne, tal como o defunto Charleton Heston (presidente da associação de defesa dos portadores de armas), era um reccionário que viveu toda a vida a combater índios e foras-da-lei.
Enfim, o Mundo está muito perigoso!
Abraço!

Anónimo disse...

Obrigado pela informação. Acabaste de me convencer que realmente não vale a pena ter uma TV em casa.
Quase vacilei.
Escreve mais!

Pedro Alves disse...

e isto também fui eu sem login...