terça-feira, 15 de março de 2011

Lutar contra quem?




Muitas pessoas perguntam contra quem é que nos devemos revoltar e o que é que podemos fazer? Esta última pergunta vem normalmente associada a um certo tom de retórica, como quem diz - não é possível fazer nada!
Este sentimento de impotência que assola as pessoas, só me faz lembrar o "tempo da outra senhora"! Nessa altura, como as conversas subversivas fora da segurança do lar e os ajuntamentos eram proibidos, as pessoas não sabiam que os outros também sabiam que o problema estava no regime (esta última oração plagia um filme que vi no outro dia). Este desconhecimento da opinião dos outros, tornava a revolta obviamente mais difícil.
É curioso constatar que, apesar de toda a gente saber que toda a gente sabe que o problema está no regime, a revolta continua a ser difícil.
Muita gente diz que o problema é que existem muitas pessoas pouco autónomas, com pouca motivação para trabalhar. Apontam muitas vezes o exemplo dos nórdicos e dos regimes anglo-saxónicos. No entanto, tenho ideia que estes também se encontram em crise. Escrevi tenho a ideia, mas na verdade tenho a certeza! Se a causa da crise fosse a falta de liberalismo e o incentivo à autonomia - que é o paradigma americano, por exemplo - não deveriam estes países estar a crescer? Os mais obstinados talvez dirão que a culpa é nossa, dos países do sul.
Outras pessoas dizem que andamos a viver acima das nossas possibilidades. Tenho dificuldades em perceber como é que as pessoas dão cabo do país a fazer empréstimos para comprar LCD's e a viajar para a Riviera Maia. No entanto, como não estou familiarizado com os poderes ocultos da CETELEM, hesito. Quando muito, essas famílias poder-se-iam destruir a si próprias e, se nenhumas pagarem pelas férias, habilitam-se a destruir a CETELEM. Já quando é o governo, em nome de todos os cidadãos, a pedir empréstimos intermináveis a juros altíssimos - mais de 7%, por acaso - cheira-me que já estamos mais próximos do problema. Não estará o Estado a viver acima DAS NOSSAS possibilidades? Não deveria ser o Estado a poupar? Em vez disso contrai empréstimos sucessivos para "se financiar". Algo nisto não soa bem, como já repeti aqui várias vezes.
Os agiotas, por seu lado, passaram décadas a emprestar dinheiro por tudo e por nada, fabricando uma irreal abundância. Qualquer pessoa que empreste dinheiro a um bêbado ou a um drogado desconhecido, sabe que existe pouca probabilidade de o recuperar. Os bancos, quando emprestaram dinheiro a pessoas que tinham poucas probabilidades de pagar - a juros altíssimos - não correram, ao contrário do que seria de esperar, absolutamente risco nenhum. Quando toda a banca realizou empréstimos arriscados no imobiliário, partindo do princípio que os preços das casas iam subir para sempre, chamaram-lhe "bolha imobiliária/sub-prime". No entanto, ao contrário de quem empresta dinheiro a um bandido, o buraco dos bancos foi pago por nós.
Ou seja, além de continuarmos a pagar juros altíssimos para continuarmos a ser "financiados", ainda temos que tapar o buraco dos negócios ruinosos que a banca faz. A este último fenómeno, chamam-lhe "salvar o sistema".
Já nem vou falar (já deu e dará ainda origem a outros posts) no processo de criação de dinheiro. No sistema de bancos centrais actual, para obter dinheiro os bancos imprimem e o povo trabalha. Parece-vos haver aqui alguma disparidade? Disse que não ia falar mas falei, e desta vez usei eu da retórica.
Falta ainda discutir o facto de o estado pedir dinheiro emprestado para investir em negócios que, em grande parte, são detidos por proeminentes políticos que saltarilham entre os respectivos cargos e negócios, investindo no fundo, neles próprios!
Infelizmente, a única coisa que as pessoas têm sido capazes de fazer para mudar o rumo das coisas, é votar no maior partido da oposição. Com ciclos que nunca ultrapassaram os 10 anos, os lobbys têm crescido, potenciando todos os problemas que aqui descrevi.
A solução passa por uma revolta contra a classe política em geral e contra o sistema financeiro que suportam. Tal coisa exigirá greves, manifestações como a do último sábado, grandes sacrifícios e privações - como qualquer revolução que seja verdadeira!
Infelizmente, há muito medo...

3 comentários:

Me disse...

Concordo com a ideia de que mudanças não ocorrem a não ser que... ocorram mudanças!
Não reconheço qualquer competência quer ao sistema político quer ao económico vigentes. Mas nenhuma mesmo.
Também não me parece que as pessoas dêm cabo do país por gastarem mais do que devem.
Acredito que há por aí é muita doença mental a legitimar pessoas que deviam ser competentes a fazerem asneiras de pôr os cabelos em pé, só que parece não haver gente saudável o suficiente para os arrastar todos para o hospital psiquiatrico mais próximo...
Enfim, suponho que o que quero dizer é que acho que este sistema com as crenças e as regras que lhe são adjacentes já provou não funcinar mas infelizmente abdicar dele e ficar sem nenhum para poder construir um que funcione melhor requeriria mais capital de equilibrio emocional do que aquele que está disponível na população.

Ou se calhar só posso dizer que também não sei resolver isto...

Ridere disse...

Fazer como na Islândia, onde nacionalizaram os bancos já era um princípio

Anónimo disse...

É altura das soluções! Parte delas creio que virá da compreensão do que é a politica! Se percebermos e conseguirmos transmitir que a politica não são os políticos mas tudo o que fazemos em prol da nossa sociedade então teremos uma possibilidade. Não é assim tão difícil e a tão aclamada meritocracia terá de ser demonstrada pela acção! Acho que no fundo é bem mais fácil, mas como em qualquer altura complicada o obvio nem sempre é o mais evidente! Outra forma seria não querermos o máximo de uma coisa e querermos o suficiente de tudo. É uma ideia simples contudo os desafios da sua transmissão são à altura do seu potencial! Mas é possível =)