sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Esquerda ou direita? Orwell ou Huxley?



Começo a duvidar da importância de estar à esquerda ou à direita. Apesar dos governos, nomeadamente em Portugal, oscilarem ritmadamente entre partidos de um lado e de outro, a verdade é que não parecemos caminhar nenhum dos lados. O fosso entre os que defendem o liberalismo e a recompensa do trabalho e os que defendem uma sociedade igualitária socialista começa a esbater-se perante os novos desafios a que estamos sujeitos.
A oligarquia e o nepotismo actuais, a manipulação das massas através das novas tecnologias, a ameaça constante de guerra , os líderes fantoche (quais marionetas manipuladas por desconhecidos), a diminuição da qualidade de vida (neo-esravatura) traz-me à memória dois livros de "ficção científica" - "1984" e "Admirável Mundo Novo" de George Orwell e Aldous Huxley. Não demorará mais do que o tempo que passou entre as "20.000 léguas submarinas" de Júlio Verne e a invenção do primeiro submarino para que a sociedade se transforme no modelo "futurista" descrito por Orwell ou Huxley. A austeridade e a opressão do primeiro contrastam com a forçada inocência, resignação e esperança do último. Não sei sinceramente para qual dos dois destinos caminhamos, provavelmente para um pouco de ambos.
Uma coisa é certa, as ameaça de guerra e de terrorismo constantes, a necessidade de controlo (para nossa imprescindível protecção), a videovigilância e os microchips com toda a nossa informação fazem-me imediatamente (até arrepia) pensar no personagem do "1984", Emmanuel Goldstein. Este personagem atribuía especial importância à ameaça de guerra constante e à eficácia que esta tem em motivar as pessoas a cumprir determinadas tarefas ou prescindir de coisas que, em circunstâncias ditas normais, nunca seriam toleradas. É arrepiante a semelhança com os dias de hoje, com a instalação de câmaras por todo lado, com os cartões do cidadão passíveis de ser "lidos" à distância (já disponíveis em alguns países), tudo com a desculpa do terrorismo e claro, para nosso bem. Provavelmente quando dermos por isso já estamos de tal maneira controlados que já não há retorno.
Por outro lado, a sociedade por castas, imaculada, resignada e satisfeita com o "soma" e com a sua sorte não parece descabida. Huxley, ao invés de Orwell, descreve uma sociedade não preocupada com a sua própria escravatura, feliz por ter o direito de existir e onde os revolucionários são oprimidos e ridicularizados mas nunca eliminados (pelo contrário, é até dada alguma esperança mas não conto o fim do livro, para os que estiverem interessados). O crescente consumo de drogas (legais e ilegais) para aumentar a capacidade de lidar com as inultrapassáveis frustrações causadas pelo sistema pede obviamente uma comparação com o "soma", droga que permitia , segundo Huxley, a satisfação automática em quaisquer circunstâncias (tais drogas já existem e podem mesmo ser usadas para esse efeito) faz-me pensar que a ficção científica mais uma vez se torna realidade.
De uma maneira ou de outra inquieta-me pensar que poderemos estar bem perto de qualquer uma dessas "ficções científicas". A manipulação dos media é tal que já não é possivel nos dias de hoje ver o telejornal sem ver notícias totalmente digeridas, superficiais e ocas de interesse. Chega a ser constrangedora a maneira como são lidas as notícias e a futilidade com que são abordados os temas. Por exemplo, presta-se mais atenção à forma (se é educado ou não, se é politicamente correcto - conceito fenomenal) do que ao conteúdo do debate político de que é expoente máximo as ridículas eleições nos EUA. Os que pensarem diferente são imediatamente considerados ridículos e defensores da "teoria da conspiração".
Nada disto me parece que tenha sido criado por acaso, e tanto os dextros como os canhotos devem estar atentos a esta nova ordem mundial que sub-repticiamente se vai instalando e aumentando os seus poderes à custa das nossas fraquezas.
Seja como for, não faz mal, os bandidos apanham-se pelas câmaras e se não estivermos completamente satisfeitos podemos tomar um Prozac.

2 comentários:

Luísa Benevides disse...

Olha, fui a tua visita nº300!
Tenho que digerir toda esta informação, por isso não faço nenhum comentário, embora goste por norma de estar a meio, já que "No meio é que está a virtude"!
Beijo

Anónimo disse...

Boa reflexão!

Obrigado por compartilha-la!